19 de septiembre de 2021

Queria

Queria te ver - um pouco, quase nada, talvez menos - nua.

Queria um - arrisco, belo, traiçoeiro - pássaro negro que me derruba-se na lama.

Queria voar - entre palavras, versos, beijos não dados - e voltar ao lugar de onde eu saí.

Queria morar - no meio da floresta, numa casa de pedras azuis, onde o pão é feito no forno que aquece e queima.

Queria morrer - morrer mil vezes e acordar com a sua mão segurando a minha e só.

Queria relações sinceras, sem riscos e mentiras. Como o suave aroma do chá preto numa branca, alva caneca esmaltada cheia de marcas e defeitos.

Sem remorsos, sem castigos. 

Queria tomar banho de roupa, pedir perdão e chorar em silêncio. 

Ouvir a sua voz gravada na penumbra, numa pequena fita K7 e esquecer por minutos o vazio, a falta de fascínio e o sorriso falso.

Queria a coragem de crescer e sentir menos. 

Salve-se quem puder - é a vida. 

E a vida não me cai bem.