Inverno




O inverno chega de forma inesperada.
Tal visita incomoda
daquela que vc deixa uma vassoura atrás da porta.

O frio deixa estar.
O ruim são as ruas vazias
que refletem o cinza
da chuva
esparsa.

Vejo ao longe
uma infância leve
de lágrimas faceis
e um virtuose ao violino.

Corta!

Devaneio.

Derramo vodca preta
no meio das suas nádegas
vc reclama
xinga
e me manda à merda.

Respondo à altura:
paguei pela garrafa
e faço dela aquilo que eu quiser!

(todo militante de esquerda
esconde um troglodita na sua essência).

Finjo que não escuto.
Lavo minhas mãos.
Uma, duas, três vezes.

É um poema por dia.
De longos cabelos escuros.
Sobrancelhas claras
e olhar asiático.

Corta!

Despeito.

O sentimento do desemprego traz discórdia.
Um ditongo crescente, um pássaro irrequieto.
Moveis sendo arrastados.
Vizinhos gritam.
E a janela treme.

A vontade é esconder-me dentro de uma máquina de costura daquelas que minha avó pedalava insistentemente e pedia para colocar a linha na agulha. 

Dores, sinto.
Nossa Sra das Dores.
De aflição, de parto?
Me vê um Chinaski aí.

Na esquina
esbraveja uma puta qualquer.
Resplandece a garota filhinha de papai que finge ainda ser virgem para não perder a sua mesada.

Sabe aquele moleque franzino que fica sentado numa cadeira de canto durante a festa toda?
Querendo dançar, mas tremendo de medo só de pensar?
Afasta o cálice, afasta!
Usa a faca da cozinha.
Faz cortes milimétricos.
Expele o veneno que te faz bem e sofre, sofre em silêncio.

Vendo um coração de aluguel!
Sorry baby. 
Vc se tornou apenas a fotografia de um crachá qualquer. 
Envolta no metrô Bresser 
entre milhões de usuários 
com pressa de fugir de casa, do trabalho, da vida.

Comentarios

Emilio. Poeta diletante. Homem frustrado. Não leu os clássicos, mas adora Bukowski e Woody Allen.

Emilio. Poeta diletante. Homem frustrado. Não leu os clássicos, mas adora Bukowski e Woody Allen.
"El hombre es la víctima de un medio que se niega a comprender su alma."