Tencionava escrever, mas tenho sangue nas mãos

Tencionava escrever 
mil palavras curtas
apenas
te ver
um pouco
quase nada
talvez menos
mas não consigo
os aviões negros
não permitem
circulam
e destroem tudo ao meu redor.

Sim, um encontro casual
séculos
se passaram
e sou
um sujeito entre tantos
longe de Brads e Toms
andando de metrô lotado
o celular entre os dedos
a estação aos prantos
com belas mulheres
sinto o impacto
o fedor do Tamanduateí
e é como se fosse ontem
transfigurada
prestes a pular no rio
um menino solta fogo pela boca
os transeuntes disparam
os carros buzinam
tenho que volver
escrever mesmo.

Pássaros pousam na minha cabeça
e um deles me derruba
no meio do lodo, da lama, do nada
e agora estou aqui 
- entre milhares d'almas -
a pensar no meu fim.

Papéis me cobrem
encho o peito
deito de bruços
sinto seu hálito
sinto seu gosto
e quero morrer
morrer mil vezes
e acordar com sua mão segurando a minha.

Quero dizer basta
aos gritos
janelas se abrem
uma música me invade
e fico à deriva
nada importa
nada mais me seduz
nada me atrai
e uso as palavras como arma
branca
indolor
espero tudo passar.



Emilio. Poeta diletante. Homem frustrado. Não leu os clássicos, mas adora Bukowski e Woody Allen.

Emilio. Poeta diletante. Homem frustrado. Não leu os clássicos, mas adora Bukowski e Woody Allen.
"El hombre es la víctima de un medio que se niega a comprender su alma."