Canalhas também amam seu filhos num sábado à noite


Desdobro-me em sementes
cresço com um girassol que tomou choque
sujo a calça
e vejo multidões.
Arrumo a mudança
insiro fechaduras e cadeados
coloco pregos na parede
e retratos teimam em cair da moldura.
Tu te tornas
o perfil que não consigo desenhar
feito sem gosto
apenas pele e gordura.
Eu sou a poesia da esquina
onde não há mais neblina
nem guris de prontidão.
O vinho verde 
repousa na calçada
pedindo esmola
e um grito ao longe
em cima do viaduto
acorda o trem.
Subo teus degraus
e esqueço onde tu guardas as minhas memórias.
Limito meus passos no teu ventre e me escondo
apenas um de cada vez - imploro
uma nova chance.
Risco tua pele clara
e deixo toda colorida as linhas da tua mão.
Vejo três tristes tigres tentando acomodar-se no teu colo
vejo flores largadas na lixeira
vejo conspirações tomando corpo
vejo capitalistas cheirando pó
vejo assassinos cuidando de recém-nascidos
vejo o espelho e o canalha.
O canalha lava a louça
arruma a cama
limpa o sangue
e vive de dar falsas esperanças.
Enquanto continuo a juntar o meu corpo
- as sobras -
de overdose em overdose
em calma procissão.



Comentarios

Carmen Regina Dias ha dicho que…
Muito bom! Forte, Poesia vai fundo na ferida.

abraços!
CoenEmilio ha dicho que…
Valeu!!!

Emilio. Poeta diletante. Homem frustrado. Não leu os clássicos, mas adora Bukowski e Woody Allen.

Emilio. Poeta diletante. Homem frustrado. Não leu os clássicos, mas adora Bukowski e Woody Allen.
"El hombre es la víctima de un medio que se niega a comprender su alma."