Na última terça decidi utilizar aquele que outrora já foi considerado o melhor transporte público de São Paulo. O meu destino era o Sebrae da Zona Leste e para tanto, utilizei a linha azul e desci na estação da Sé. Escolha infeliz.
Creio possuir um desejo secreto pela aventura, pelo sofrimento, ou talvez de ser um José Hamilton Ribeiro, cobrindo um conflito armado, pois sabia de antemão da dificuldade de pegar o metrô em torno das 18 horas num dia normal de trabalho.
Mas lá fui eu. E para a minha surpresa e espanto, tive que ficar no meio da multidão por mais de 10 minutos. Tive que esperar numa espécie de pré-fila da fila de embarque. Num cercadinho quem nem gado à espera do abate. Sendo empurrado por todos os lados, arriscando perder a carteira e o pouco orgulho que me resta. Triste, patético, escandaloso. Mas consegui chegar à frente da plataforma, depois de ter o meu braço esquerdo amassado na barra de contenção. Felizmente, o carro do Metrô chegou logo depois e fui arremesado por trás dentro do vagão cheio junto com mais 30 pessoas. Arremesar é pouco, mais parece um tsunami humano a arrastar tudo. Fico (desculpem a tão batida figura de linguagem, mas não há outra melhor) que nem sardinha enlatada, comprimida, pressionada e compactada. Sorte minha, não ser claustrofóbido ou estar muito acima do peso. Sorte minha não estar com a bexiga cheia. Enfim, vejo e ouço todo mundo a reclamar e de forma surreal, o condutor do carro informa que o sistema do Embarque Melhor trouxe mais conforto e segurança. Risos amarelos e impropérios diversos. O metrô anda e assim todo apertado sai em direção à populosa zona leste. Mas calma, o pior estava por vir. Na estação do Brás mais 20 vítimas juntam-se a nós. Como ela conseguiram entrar no vagão já lotado, isso as leis da física não explicam e talvez ganhe um Prêmio Nobel quem descobrir o segredo de tal facanha.
(cabe aqui um pequeno parêntesis, pois do lugar que eu vim, onde não há metrô, é comum pegar ônibus lotado e ficar dependurado do lado de fora do mesmo, logo não sou um cara tão exigente).
Desço na estação Carrão e agradeço a Deus (apesar de ser agnóstico) por não ter que pegar qualquer ônibus no terminal (as filas são intermináveis e as linhas escassas) e por chegar ao meu destino vivo e acima de tudo, inteiro.
Bom, algo urgente precisa ser feito.
As autoridades "competentes" calam-se e a grande imprensa omite-se ou consente.
O paulistano não reclama ou se acomoda à situção tão trágica e humilhante. Acredito que se fosse no Rio, algumas estações do metrô já teriam sido incendiadas ou se fosse em algum país mais desenvolvido, o governador e o prefeito seriam defenestrados do cargo por má administração pública.
Embarque melhor? Parece piada de mau gosto. Parece que estamos no famigerado livro de Orwell, onde a desgraça humana é chamada de felicidade plena.O novo sistema, creio eu, só serviu para contratar mais mão de obra terceirizada e talvez fazer caixa 2 para a próxima eleição.
Alguém precisa tomar coragem e tomar soluções radicais. Nada de paliativos. A iniciativa privada e os órgãos públicos precisam sentar e decidir por uma horário de trabalho móvel ou flexível. Não há mais como milhões de pessoas entrarem ou sairem do serviço sempre no mesmo horário. O caos está à espreita, espera por nós na próxima estação e se tudo continuar igual, salve-se quem puder.
P.S.: Enquanto esperava, ouvi um funcionário uniformizado reclamar do fato de ficar mais de 5 horas em pé, organizando a fila e dizer que nada tinha mudado com o novo sistema, muito antes pelo contrário.