Poderia estar em qualquer lugar, menos aqui. Sábado à noite é usado pelos seres normais pra sair, janta fora, ir pra balada, menos eu. Prefiro estar aqui e escrever textos que ninguém irá ler, fora eu. Talvez algum dia, o meu talento escondido sob tanta raiva seja reconhecido e logo esquecido, tanto faz. O mundo não irá durar tanto tempo assim. O fim está próximo, e sei lá, 2012 pode ser amanhã, no máximo segunda. E antes que tudo acabe, queria apenas dizer - pateticamente - que viver em São Paulo é no mínimo surreal. Observar por quilometros e quilometros uma fila de caminhões que não anda, que começa próximo à Avenida Aricanduva e termina no acesso à Rodovia dos Bandeirantes é o maior retrato da nossa própria e pura estupidez. Centenas e centenas de caminhões andando de centimetro em centimetro, timidamente, como se estivessem com medo daquilo que vem pela frente. Medo de avançar e cair num pricipício. Medo de revoltar-se e reclamar por uma solução das autoridades. Sei, sei que de nada adianta reclamar. Que tudo poderia ser pior ou estar pior. Que se o paulistano não fosse tão conservador e acomodado, já teria defenestrado o atual prefeito por má gestão pública. Que se o mundo fosse perfeito, eu não estaria aqui a lembrar um livro do Cortazar que fala do absurdo da nossa vida. Que "La autopista del sur" é mera ficção. Que vivemos no melhor dos mundos e que se pudesse me esconderia numa ilha deserta. Prefiro a solidão (¡soledad!) a viver numa cidade perdida e cheia de seres esquecidos pela razão. Prefiro a São Paulo de "Ensaio sobre a Cegueira" à São Paulo camuflada, mascarada de "Cantando na Chuva". Prefiro morrer num regazo perdido no porto de la Coruña a saber que terei mais uma segunda. Sem mais.