Namastê, eu respondi.
São 7 da manhã e depois de dormir a noite toda no meu carro, chego em casa e encontro-a rezando calmamente, como se nada tivesse acontecido.
Em frente ao altar, uma imagem enorme de um Buda me fita com os olhos de raiva e censura. E por um momento penso que estou perdendo o juízo.
Saio e vou para a cozinha. Uma panela no fogo com várias chupetas fervendo. Um urso de pelúcia à beira da pia. Uma gaiola vazia em cima do microondas. Abro a gaveta na minha frente e pego uma peixeira. Vontade de cortar o urso em pedaços, enfia-lo na panela fervendo e esconde-lo depois na gaiola. Mas paro e penso e acho melhor descascar uma laranja.
Ouço o zumbido de um pernilongo fora de hora.
Vejo a barata saindo do seu esconderijo.
Chupo a laranja como se fosse a última.
Volta à sala, volto ao gompa e deito.
Enquanto uma suave cantoria, um mantra tibetano toca no CD player, olho pro teto.
É branco e o Deus que tenho dentro de mim está infeliz.
Namastê, eu digo.
Namastê, Namastê!
Ela pede pra ficar quieto e fazer silêncio.