2 de noviembre de 2007

Dorje Shugden ou a arte de ser (in) feliz sem parece-lo.

Namastê, ela disse.

Namastê, eu respondi.

São 7 da manhã e depois de dormir a noite toda no meu carro, chego em casa e encontro-a rezando calmamente, como se nada tivesse acontecido.

Em frente ao altar, uma imagem enorme de um Buda me fita com os olhos de raiva e censura. E por um momento penso que estou perdendo o juízo.

Saio e vou para a cozinha. Uma panela no fogo com várias chupetas fervendo. Um urso de pelúcia à beira da pia. Uma gaiola vazia em cima do microondas. Abro a gaveta na minha frente e pego uma peixeira. Vontade de cortar o urso em pedaços, enfia-lo na panela fervendo e esconde-lo depois na gaiola. Mas paro e penso e acho melhor descascar uma laranja.

Ouço o zumbido de um pernilongo fora de hora.

Vejo a barata saindo do seu esconderijo.

Chupo a laranja como se fosse a última.

Volta à sala, volto ao gompa e deito.

Enquanto uma suave cantoria, um mantra tibetano toca no CD player, olho pro teto.

É branco e o Deus que tenho dentro de mim está infeliz.

Namastê, eu digo.

Namastê, Namastê!

Ela pede pra ficar quieto e fazer silêncio.