29 de septiembre de 2007

Elevador (Valério Oliveira)

No espelho, ela olha os olhos vermelhos, assassinos, siameses, há meses presos no espelho. No espelho, ele olha os olhos dela, ora flexionados, ora refletidos na lente velha, fixa, leve, do monóculo vermelho. Ela, revelada, não sabe, não vê o que fazer com o próprio olhar, com o impróprio olhar alheio. Ele, no entanto, sabe, e faz bem feito: ao escutar, cavalheiro! com que direito?!, respeitosamente, sem receio nem medo de vaia, põe-se a passear — cinto no cinto, boca na boca — cinco dedos num seio, sei lá quantos sob a saia. Valério Oliveira Do livro Mínimo eu