Elevador (Valério Oliveira)
No espelho, ela olha os olhos vermelhos,
assassinos, siameses, há meses presos no espelho.
No espelho, ele olha os olhos dela,
ora flexionados, ora refletidos na lente velha,
fixa, leve, do monóculo vermelho.
Ela, revelada, não sabe, não vê o que fazer
com o próprio olhar, com o impróprio olhar alheio.
Ele, no entanto, sabe, e faz bem feito:
ao escutar, cavalheiro! com que direito?!,
respeitosamente, sem receio nem medo de vaia,
põe-se a passear — cinto no cinto, boca na boca —
cinco dedos num seio, sei lá quantos sob a saia.
Valério Oliveira
Do livro Mínimo eu
Comentarios