Elevador (Valério Oliveira)

No espelho, ela olha os olhos vermelhos, assassinos, siameses, há meses presos no espelho. No espelho, ele olha os olhos dela, ora flexionados, ora refletidos na lente velha, fixa, leve, do monóculo vermelho. Ela, revelada, não sabe, não vê o que fazer com o próprio olhar, com o impróprio olhar alheio. Ele, no entanto, sabe, e faz bem feito: ao escutar, cavalheiro! com que direito?!, respeitosamente, sem receio nem medo de vaia, põe-se a passear — cinto no cinto, boca na boca — cinco dedos num seio, sei lá quantos sob a saia. Valério Oliveira Do livro Mínimo eu

Comentarios

Emilio. Poeta diletante. Homem frustrado. Não leu os clássicos, mas adora Bukowski e Woody Allen.

Emilio. Poeta diletante. Homem frustrado. Não leu os clássicos, mas adora Bukowski e Woody Allen.
"El hombre es la víctima de un medio que se niega a comprender su alma."