Teatro para uma minoria. Uma minoria abastada, mas minoria. Uma pena que o teatro sério seja frequentado em São Paulo apenas pela alta classe média. Uma pena.
Independente do público, "Policarpo Quaresma" não me agradou como teatro. Muita interferência dos elementos coletivos e caóticos que Antunes Filho adora. Falta de drama numa peça que almeja ser uma denúncia. "Policarpo" e sua indignação, sua ingenuidade são marcantes. Mas faltou volume narrativo. Faltou mais conteúdo e menos espetáculo.
Ontem à noite tive a bela surpresa de assistir aos Reis Preguiçosos. Um espetáculo de rua diversificado, colorido, chamativo e alegre. Um misto de teatro e circo, com shows pirotécnicos, acrobacias, muita música e fantasias divertidas. Em outras palavras, a estética do deslumbre levada com competência às ruas do Ipiranga.
Assisti à peça há algum tempo e na correria deixei pra falar dela com mais calma (depois de postar várias e diversas bobagens). Não há nada mais lindo que assistir a uma boa peça teatral. Desde a direção à performance dos atores, a emoção supera e muito à emoção provocada por um bom filme (é claro que sei a diferença entre um e outro, mas é uma opinião pessoal). A peça em si, não traz nada de novo. É algo minimalista e tudo gira em torno dos atores, da loucura, dos diálogos e da beleza visual. Lembro ainda das "caras e bocas" da atriz Angélica di Paula (Moema). Que esforço sobre-humano ela fez pra manter a personagem o tempo todo lá em cima. Transpira e provoca fervor, ansiedade, dor, repulsa e paixão com "P" maiúsculo.Admiro quem faz e vive de teatro. Já vi peças com no máximo 10 pessoas assistindo, e o povo todo no palco dando o máximo para ter uma boa apresentação.Uma pena que muitas vezes excelentes atores de teatro acabem se prostituindo pra fazer uma novela global. Uma pena. Entendo, mas lamento.E pra terminar apenas mais um detalhe que chamou à minha atenção.Muito já ouvi falar sobre teatro popular e entendo que seja o teatro a preços populares. Entretanto, todas as peças em cartaz na sua grande maioria não possuem preços acessíveis. Detesto isso. Uma arte que poderia ser universal fica restrita a alguns poucos felizardos. No dia que fui no SESC, o público era formado por moderninhos, universitários de classe média alta, senhoras bem vestidas, patricinhas & mauricinhos, casais aposentados com um excelente saldo bancário prontos pra sair do teatro e ir jantar no Gigetto, crianças bem alimentadas, quer dizer, a elite branca de São Paulo. Mais uma vez, uma pena.