14 de agosto de 2011

Dia dos Pais - A Pandorga (Papagaio de papel).


Antes de tudo, cabe aqui uma pequena introdução ou talvez até uma justificativa: a família do meu pai sempre foi famosa pela sua avareza. Nada de viver na miséria e esconder o dinheiro embaixo do colchão. Não, nada disso. Era, mais bem, uma família que fazia de tudo evitar o desperdiço e economizar nos pequenos detalhes, mantendo a mão fechada sempre que possível.
Bom, agora vem a historinha. Como toda criança curiosa e exigente, queria porque queria que o meu Pai comprasse uma pandorga. O meu pai – fiel aos princípios familiares – falou que não. Nada de gastar desnecessariamente.
- Podemos montar uma, disse ele. Sairá muito mais barato!
Pois bem, lá fomos nós comprar o material necessário. Papel de seda, varinhas de madeira ou cana, cola , tesoura, cordel, etc, etc.
Montar uma pandorga não é – teoricamente – uma atividade do outro mundo. É só cortar o papel, colar as varinhas, dobrá-las, juntá-las, quebrá-las e por fim colá-las de novo. Emendar a linha, a cauda colorida, o barbante e o resto do resto. Após algumas horas, a pandorga estava pronta. Bonita, com certeza, mas faltava o principal, o teste é claro. De que adiantava ter uma pandorga bonitinha se não voasse!
Lá fomos nós. No meio de um descampado, num dia nublado, frio e com uma pequena mas incômoda garoa.
Testamos o vento e fizemos os últimos preparativos. A pandorga parecia um lutador de boxe rodeado de preparadores, assistentes e do técnico, dando-lhe as últimas orientações.
Corri com ela uns 15 a 20 metros e ergui os meus pequenos e magricelos braços. A pandorga estava pronta para decolar. O meu Pai puxou o cordel mas a Pandorga não levantou voo. Pesada demais, caiu no chão.
Nova tentativa, corri e ergui os meus braços a mais não poder. Nada. Ela teimou, teimou e caiu, estatelando-se no chão de terra.
Mudamos as posições, o meu Pai decidiu erguer a pandorga e eu me afastei para puxar o barbante com força e determinação. Mas a bendita pandorga, subiu, deu algumas piruetas, zunindo o vento e pum!!! Na lona de novo. O meu lutador de boxe tinha sido nocauteado pela terceira vez.
Assim foi a tarde toda, novas tentativas, novas frustrações.
Fizemos alguns remendos na pandorga machucada, corrigimos a cauda, refizemos e tampamos alguns buracos. Mas nada. A pandorga não durava mais do que alguns segundos ao vento.
O meu Pai entre chateado e furioso, tentava me animar e incentivar em novas tentativas. Mas a cada queda, o tom de voz ficava cada vez mais nervoso e inseguro.
Eu, desiludido, não sabia como reagir. Reclamar pelo fato do meu Pai não ter comparado uma pandorga pronta ou falar que tudo bem, o importante era ter ficado algumas horas junto com ele, montando a mal-agradecida.
De longe, apareceu um moço que com certeza tinha visto nossas frustradas tentativas de erguer o meu brinquedo. Ele fez alguns comentários que não entendi mas percebi que compreendia mais do assunto do que o meu Pai. Começou a mexer na pandorga, cortou alguns excessos do corpo e da cauda, refez a aerodinâmica – se assim podemos disser – e sugeriu uma nova tentativa.
O meu lutador de boxe, depois de vários KO estava pronto para o último assalto. Era bater ou correr. Era derrubar o adversário ou perder a luta.
Lá fomos nós de novo. Levantei os braços, a pandorga estava pronta. O moço desconhecido puxou com firmeza o cordel e a pandorga levantou voo. Desta vez, durou uns 10 segundos antes de cair. Beijou a lona. Estatelou-se e quebrou-se em alguns pedaços. O juiz parou a luta, mandou o adversário pro canto dele e começou a contagem. 10, 9, 8...3, 2 1.0. O meu lutador não se levantou. A pandorga já era.
O moço apertou a mão do meu Pai e meio que se justificando, explicou que a pandorga não tinha jeito. Era pesada demais ou algo assim (como se já não soubéssemos). O meu Pai assentiu com a cabeça e agradeceu.
Virou-se pra mim e pediu desculpas com o olhar. Eu não sabia o quê disser. O meu lutador continuava no chão. O meu Pai – o meu herói, o meu ser indestrutível e perfeito, o meu modelo de conduta e sabedoria, tinha fracassado. E pela primeira vez, vi o meu Pai como um perdedor, um ser humano de carne e osso que fez a escolha errada, tentando economizar em ninharias, dando-se mal.
Fui buscar a pandorga (o que sobrou dela). Talvez pudesse construir uma nova com os restos. Uma pequena, leve e solta. Afinal, pra quê gastar numa nova se poderíamos tê-la de volta.


Portal do Consumidor - Notícias

Advogado elabora os 10 Mandamentos das Redes Sociais para que os usuários não corram o risco de cometer crimes nem de ser vítimas de criminosos virtuais Portal do Consumidor - Notícias

13 de agosto de 2011

11 de agosto de 2011

FHC X LULA X DILMA

O governo Dilma é mais corrupto porque pune mais ou pune mais porque é mais corrupto???

Em latas de sardinha (via @cartacapital)

Enquanto a grande imprensa vive a preocupar-se apenas com o próximo escândalo do governo Dilma e/ou das celebridades, nós simples mortais continuamos a sofrer com a estupidez e descaso do PSDB aqui em São Paulo. http://ping.fm/HN7u0

9 de agosto de 2011

Palavras

Gosto de brincar com as palavras. O talento é escasso, a disciplina falha. E por isso brinco. Levo a vida tão a sério que só me resta a escrita como válvula de escape, como contraponto à minha introspecção (mas a brincadeira foge de controle, causa mágoas, melindres e feridas são abertas, sentimentos são machucados e a catarse explode). Eis o fascínio das palavras, como diria Cortázar.
Eis o desejo de expressar aquilo pouco que tenho dentro de mim. 
Em volúveis e irrelevantes palavras.

1 de agosto de 2011

Cartas de Cortázar


Todo mundo a falar da Piauí deste mês por causa dos perfis de Ricardo Teixeira e Kassab, mas ninguém a comentar as lindas cartas de Julio Cortázar. Segue um breve exemplo da sua riqueza, mesmo sendo um assunto pra lá de escatológico:


"...A questão é que a sintonia, a concordância, a coincidência lógica não se produz e, depois de um tempinho neste gabinetto, e em todos os outros (pois tenho inspecionado todos), você vê que o buraco funcional rutila e resplandece, enquanto ao redor, nas bordas, no teto, nas paredes, contra a porta e fora da porta, levanta-se toda gama de colorações nacionais e dietéticas, as pirâmides exalantes e probatórias da triste condição humana..."


http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-58/cartas-julio-cortazar/misteriosa-entrega-e-mudanca-de-si-mesmo

30 de julio de 2011

Livros X Celulares

Cada vez que adentro no metrô fico a observar os inúmeros passageiros que se aglutinam em massa rumo ao serviço, à escola ou afazeres diversos. E percebi que nos últimos anos, as pessoas costumam ler cada vez menos, sejam jornais, revistas e principalmente livros. Tudo foi substituído pelo bendito celular. Celulares de todos os tamanhos, marcas e modelos. Cada um ensimesmado, concentrado, com o olhar fixo na telinha do dito cujo. Pode ser falando, digitando uma mensagem, jogando uma bobagem qualquer ou, a maioria, navegando na internet. Aí me pergunto, o quê eles faziam antes da disseminação dos celulares? Conversavam, liam, trocavam olhares com a rapariga ao lado? Lembro que no passado era um hábito mais do que comum passar na banquinha da esquina, comprar o jornal de preferência e abri-lo dentro do ônibus, do metrô. Levar um bom livro embaixo do braço e curtir sua leitura entre uma estação e outra. Agora? Nada disso. Só sabemos de celulares e mais celulares. Mídias sociais que num supremo paradoxo nos afastam. Citando Walt Whitman, "Que pode haver de maior ou menor do que um toque?"  Ironia do destino, talvez nos dias de hoje, a resposta seja: um tweet, um toque no Facebook, um sms...E se o Cidadão Kane fosse refilmado - a cena do jantar onde o casal se afasta, se distancia - seria necessário trocar os jornais por um celular, um smartphone, um iPad. 
Longe de mim querer tripudiar com as mídias sociais. Tenho e participo de tudo um pouco. Acredito que elas vieram para ficar, pois servem para compartilhar os nossos anseios, brincar, demonstrar revolta, indignação e nos aglutinar em causas comuns. Só não concordo que "o meio" substitua o conteúdo
Provavelmente, seja um saudosismo besta. E se comecei a falar mal do celular, derivando numa lógica só minha, para terminar reclamando das mídias sociais, é porque a desilusão é uma só. Se a pessoas te magoam em carne e osso - farão o mesmo digitalmente falando. Sem pena e sem dó. 

28 de julio de 2011

Da série: Milagres da Fluoxetina II

Talvez seja fruto de uma série crise de meia idade. Efeito da fluoxetina. A morte da Amy. Talvez seja simples falta de tempo. Ou tudo não passe de pura prisão de ventre mesmo. Sei lá mil coisas. Só sei que estou sem entrar no TweetDeck há quatro longos dias e não sinto falta. 

27 de julio de 2011

Da série: Milagres da Fluoxetina I

Redescobrir o centro antigo 
de São Paulo. 
Uma parte da cidade que me 
lembra muito 
Buenos Aires...