12 de septiembre de 2010

Da indignação seletiva II

Toda essa resistência em torno da candidatura do Netinho ao senado é muito suspeita. Se ele fosse branco e classe média teríamos tanta indignação? Netinho é o negro humilde que deu certo e que não precisou da alavanca esportiva. Bateu na mulher sim. Algo lamentável e censurável. Isso o torna inelegível? Na minha opinião não. Aécio fez o mesmo e agora é o favorito para o senado em Minas. E aqui entre nós, está na hora de renovar os nomes da política paulista. Quércia, Tuma, Aloysio e até o próprio Suplicy - já deram o que deveriam de dar. O que deve ser feito sim é o acompanhamento, a análise crítica da figura pública. Netinho tem ou não condições de representar o estado? Terá ou não estofo e condições para fiscalizar o executivo, seja qual for?

The day after

Quem se vendeu - na grande imprensa - a troco de nada ou à base de favores, trocas, viagens e promessas mil, deve estar seriamente preocupado com a vitória de Dilma. Como ficarão as redações depois do dia 3? As equipes "'investigativas" serão desfeitas e muito repórter ficará no olho da rua. E como na primeira vitória do Lula, a mídia irá sossegar por um ou dois anos antes de voltar à busca incessante de factóides ou fait-divers como diria o Octávio Ianni. 

Da indignação seletiva



A opinião pública é pautada pela mídia internacional, leia-se os donos do poder. Os inimigos da vez são o Irã, Cuba e Venezuela. Assim como no passado já foram a China e a velha URSS. É de rir. A indignação seletiva e hipócrita adora criticar o governo do Irã (inimigo declarado dos EUA), e prefere esquecer da ditadura nas Arábias, por exemplo. Falta senso crítico, falta maturidade. 
Sem falar do Israel e sua política genocida.

5 de septiembre de 2010

A Origem

Dormi no filme. E sonhei que estava escrevendo uma crítica do filme, mas me perdi todo e acabei dormindo e sonhei que estava escrevendo sobre um filme que fala de um filme dentro de um filme, onde o personagem sonha que está sonhando em fazer um filme sobre dormir nos filmes...
Enfim é como aquela história que lembro ter visto em "Planeta dos Macacos" (o original): um artista que pinta um quadro onde tem um artista que pinta um quadro de um artista que está pintando um quadro... A história é infinita e as possibilidades idem. 
E a grande sacada do filme de Cristhoper Nolan é tornar plausível algo totalmente inverossímil. Tal Matrix onde a realidade era virtual, ou o filme supracitado, onde a realidade estava no futuro possível. A vida é sonho já dizia Calderón de la Barca. E se estamos sonhando ou vivendo de fato uma realidade concreta, não é algo tão simples. É preciso ir além do provável, do conhecido, das aparências.
Adorei o filme, principalmente quando acordei. A trilha é soberba, digna de um Oscar. Recomendo. Não durma. E se dormir, assista de novo. E como diria um reclame antigo, embarque na fantasia, no delírio, na loucura do diretor. Faça de conta que se trata de um filme francês dos anos sessenta, um Godard, ou um Gerald Thomas, um Lynch, com tiros, perseguições e muita adrenalina.
Leia mais:
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,a-origem-um-filme-complexo-e-fascinante,590895,0.htm

Sorver

Sorvo a vodka que nem água
Depilo as sobrancelhas com cera
Quente é teu toque
E meus peitos doem.
Senta aqui
enxuga as minhas lágrimas
me abraça, me escreve, me esquece.
Sóbria permaneço
como a última pedra
em pé
do seu, do meu
labirinto.

1 de septiembre de 2010

O final de Law & Order

Um crime. Algo que parece ser simples torna-se complicado. É necessário descobrir o culpado. Denuncia-lo. Reunir as provas, testemunhas, depoimentos e aguardar o resultado do julgamento. Em paralelo, acompanhar o dia-a-dia dos policias e seus problemas particulares. Os dilemas morais dos promotores. A sujeira por baixo do tapete. As armadilhas. A competição insana. A briga pelo poder.



A sensação de desconforto toda vez que algo termina é de fato inquestionável. Mas de algo bom, diga-se de passagem. Law & Order é (ou foi) um marco na televisão. Um seriado com 20 temporadas não é para qualquer um. E como já disse antes, muito seriado norte-americano dá de 10 a 0 em qualquer novela ou seriado tupiniquim. E não é pela qualidade técnica. É pela ousadia em tratar de temas espinhosos, cabeludos e atuais. Lembro até hoje, do primeiro capítulo da última temporada. Tratou da tortura com uma virulência e poder de argumentação devastador. E tal um David dos tempos modernos, acusou abertamente a política de estado dos EUA et caterva, fazendo sérios questionamentos morais sobre Bush Jr e cia. Isso tudo, em apenas 40 e poucos minutos! Enquanto isso, a TV brasileira continua no arroz com feijão, sem ousadia temática e muito menos de conteúdo. Pode até inovar na liguagem televisiva, mas sem agredir o status quo. Pode ter lampejos de criatividade (Capitu), de hiper audiência (Roque Santeiro) ou de crítica social (Vale Tudo, O Dono do Mundo), mas nada comparável aos seriados da gringolândia (ou algum seriado brasileiro já teve a coragem de denunciar o trafico de crianças do Haiti nos EUA ou a prostituição infantil no Brasil, por exemplo?). A crítica social da TV brasileira limita-se a alguns indivíduos. A uma determinada classe política. A um determinado local bem delimitado. A sociedade como um todo é pega de surpresa. Vivemos alheios. Não temos culpa. A corrupção é feita e recebida pelos outros. Nunca por nós e muito menos por aqueles que assistem a novela das oito (pois como diria o sábio William Bonner, somos todos um bando de Homers Simpson).

É fato. Law & Order vai deixar saudades. Assim como aconteceu com E.R. e Arquivo X.

E para quem não está tão familiarizado com o seriado, aqui vão dois links falando do assunto:http://pt.wikipedia.org/wiki/Law_%26_Order 
http://sharetv.org/shows/law_and_order

24 de agosto de 2010

Um girassol da cor de seu cabelo

Acordo logo cedo
com um "porque" pendurado
no meu pescoço, tal melancia alucinada.
Levanto e vejo
no espelho
mais um "porque"
pintado na minha testa, toda colorida.
Tento encontrar as razões e motivos
vasculho o seu silêncio insano
tento entender essa viagem maluca.
Maldita indiferença!
Prefiro o fingimento
prefiro ser odiado
e me perder, me perder
nos seus cabelos emaranhados
como uma pequena abelha,
como um girassol.

O "cofrinho" de Shakira

23 de agosto de 2010

Bienal do Livro

Rodeado de piralhos por todos os lados, visito mais uma edição da Bienal do Livro de São Paulo e por aquelas razões que só Freud explica, teimo em chama-la mais de uma vez de Feira do Livro. Talvez se deva ao fato de que lá no sul - região da qual meio que eu vim - cidade pequena não faça Bienal, faz apenas uma modesta Feira, quase sempre localizada na principal praça da cidade. Nada de Anhembi, Sambódromo, Centro de Exposições ou qualquer outro hiper espaço de eventos. Em se tratando de cidade do interior, as dimensões são minúsculas. Cinco ou seis barracas, normalmente da marca mais badalada de refrigerante. Iluminação improvisada. Mesas e cadeiras arranjadas às presas. E um sistema de som emprestado. Tudo de forma precária e amadora. Mas com uma imensa vontade de participar, de fazer acontecer, de manter uma tradição e obter lucro, se possível...
E lá se vão mais de 20 anos desde que saí do RS.

19 de agosto de 2010

Depois de um longo e tenebroso inverno

É bom estar de volta.
Deixei o meu blog de lado para me ater a outros afazeres e obrigações.
Mas o desejo de escrever, opinar, falar besteira e reclamar da vida , estava latente, aflito e quase em desespero.
E a vontade de assistir a "Medos Privados em Lugares Públicos" era antiga. Mas a falta de tempo, oportunidade e um certo preconceito em relação ao cinema francês, sempre adiaram tal possibilidade. A princípio fui ao Belas Artes para assistir "El secreto de sus ojos", porém o destino fez que a cópia apresentasse defeito. E lá fui eu, assistir a um filme que está há três anos em cartaz, ainda frustrado, ainda com um certo receio.
Creio que a figura emblemática do filme de Alain Resnais seja a personagem de Charlotte uma mistura de recepcionista, beata, enfermeira e stripper. Afinal não somos obrigados a assumir diversos papeis ao longo da nossa vida? Somos pais e filhos, rebeldes e acomodados, sábios e trogloditas. Tudo depende do contexto, das circunstâncias. Almejamos a coerência, a virtude, mas somos fracos e infelizes. Os cinco personagens, deixando de lado a Charlotte, não são diferentes, são imperfeitos e incompletos. Querem afeto e compreensão. Querem ser ouvidos, receber conselhos e obterem prazer. Querem confessar os pecados e serem perdoados. Sem esquecer o sétimo personagem, o pai do barman, idoso e doente, que além de infeliz é incapaz de mudar a sua condição, de movimentar-se, de andar, de sair e enfrentar a tempestade de neve, reagindo com a mais pura e gratuita agressividade.
O inverno, a neve, a escuridão permanente são uma metáfora do nosso vazio. E se o sol surge ao final do filme não é para simbolizar o renascimento da vida, da primavera ou de qualquer outro escapismo - simboliza apenas
que somo índivíduos com poder de livre arbítrio. Que podemos fazer escolhas, partir para outra, levantar a cabeça e sacudir a poeira. Somos imperfeitos sim, erramos sim, mas a decisão cabe a nós, adultos nem tão crescidos, nem tão maduros. Mesmo que a opção seja a solidão e uma fita VHS vazia. E quem não tem mais o poder de escolha, pode sonhar, fantasiar, desejar por uma linda stripper. E morrer com um sorriso nos lábios.
http://buysound.solo.net/Private%20Public/21_Choices.mp3