Sou de lábios na cor e no tom mais discreto possível
com a pele alba e cheia de segredos
tatuagens a externar desejos
fantasias mal resolvidas
enredada em mil partituras
perdida entre tantas palavras.
Procuro ser minimalista
em meus erros
mas não admito a escolha infeliz
teimo e sinto as consequências
de ser ou querer ser tão perfeita.
Corações despedaçados
cidades abandonadas
ruas em desalinho
e aguardo uma mensagem
um recado
um assobio.
Circulo entre a multidão
vejo policiais
me escondo entre pilastras
começa a correria
o gás entra pela minha boca
e vomito palavras.
Flores abandonadas na lixeira
chuva esparsa
cinco graus negativos
helicópteros caindo do céu
a terra aberta em mil pedaços
pouco importa.
Aos gritos
falo que não tenho
medo de morrer
Eles não compreendem
Medo eu tenho é de sofrer - explico
porque isso é de matar.
Continuo a juntar o meu corpo
de overdose em overdose
em procissão.
Foto by Pedrosa Neto