18 de abril de 2018

Inverno




O inverno chega de forma inesperada.
Tal visita incomoda
daquela que vc deixa uma vassoura atrás da porta.

O frio deixa estar.
O ruim são as ruas vazias
que refletem o cinza
da chuva
esparsa.

Vejo ao longe
uma infância leve
de lágrimas faceis
e um virtuose ao violino.

Corta!

Devaneio.

Derramo vodca preta
no meio das suas nádegas
vc reclama
xinga
e me manda à merda.

Respondo à altura:
paguei pela garrafa
e faço dela aquilo que eu quiser!

(todo militante de esquerda
esconde um troglodita na sua essência).

Finjo que não escuto.
Lavo minhas mãos.
Uma, duas, três vezes.

É um poema por dia.
De longos cabelos escuros.
Sobrancelhas claras
e olhar asiático.

Corta!

Despeito.

O sentimento do desemprego traz discórdia.
Um ditongo crescente, um pássaro irrequieto.
Moveis sendo arrastados.
Vizinhos gritam.
E a janela treme.

A vontade é esconder-me dentro de uma máquina de costura daquelas que minha avó pedalava insistentemente e pedia para colocar a linha na agulha. 

Dores, sinto.
Nossa Sra das Dores.
De aflição, de parto?
Me vê um Chinaski aí.

Na esquina
esbraveja uma puta qualquer.
Resplandece a garota filhinha de papai que finge ainda ser virgem para não perder a sua mesada.

Sabe aquele moleque franzino que fica sentado numa cadeira de canto durante a festa toda?
Querendo dançar, mas tremendo de medo só de pensar?
Afasta o cálice, afasta!
Usa a faca da cozinha.
Faz cortes milimétricos.
Expele o veneno que te faz bem e sofre, sofre em silêncio.

Vendo um coração de aluguel!
Sorry baby. 
Vc se tornou apenas a fotografia de um crachá qualquer. 
Envolta no metrô Bresser 
entre milhões de usuários 
com pressa de fugir de casa, do trabalho, da vida.