2 de enero de 2016

Globo Espelhado



Diz o ditado que as pessoas bebem para tornar as outras mais interessantes. No meu caso - bem particular - bebo pra me tornar mais interessante. 
E ainda bem que a bebida existe, o álcool existe, a birita existe.
Longe de mim, entrar nessa história de mimimi. 
Não vou culpar os meus pais e a sociedade, o sistema por tudo aquilo que sou. Longe disso. Sou apenas um navegante sem beira nem eira em busca do amor perdido. Da aprovação, que busca ser aceito por todos e não consegue. Que tenta ser um astro, uma estrela, um paradigma, mas não passa de um arremedo, de uma farsa.

Capítulo II

Sem palavras para narrar o meu fracasso, fico em silêncio inaudito, simplório.
Pego frases de estranhos e as torno minhas para descobrir o meu passado, o meu futuro, o meu presente.
Vejo imagens sendo levadas em burros de carga e consigo descobrir o meu destino.
Um destino sem vozes, uma sensação de missão cumprida.

Um circunflexo na letra errada.

Vamô parar de enrolação

Voltemos à bebida.
Vodca congelada, de preferência com Coca Zero, muito gelo e uma fatia de Laranja Lima.
Sacudo a cabeça, mas as palavras não afloram.
Vejo (de novo o verbo ver).
Freiras estão no meio de caminho e passo por cima delas com uma jamanta colorida. 
Ganho 5000 pontos e uma sobrevida.
Vejo imagens que surgem do céu.
Imploro perdão. Imploro pela volta do Messias.
Pelo Deus Lono que irá transformar o mundo em algo mais decente.
Talvez somente um meteoro que vindo do nada, de um buraco negro - consiga acabar com tudo. 
E renascer do caos o que resta de mim.


Chega de mimimi  - falei lá em cima

Chega de lamentações.
Chega de ver retratos falsos.
De invadir a vida das pessoas.
De tentar ser amiguinho de desconhecidos famosos
Famosos, eu disse?
Se ser famoso é aparecer na TV , prefiro continuar bebendo.
Escrevendo quem nem o Fantástico, quer dizer, uma vez por semana.
Escrever para ninguém ler - esperando, esperando.


Capítulo Final

Não vejo mais nada.
Não sei se o copo está meio vazio ou continua meio cheio.
Só sei que me tornei um ser patético próximo dos 50 anos.
Um ser que não sabe escrever na própria língua.
Que tenta ser algo que não é.
Que repete frases para surtir mais efeito. 

Que ouve música dos anos 80 para lembrar do globo pendurado do teto, refletindo uma luz roxa que tornava tudo tão branco.
Que não tinha coragem de dançar ou convidar a menina mais feia do bairro para sair.
Uma rápida visão do passado.
A adolescência ficou dentro de mim como algo que gruda na pele, na carne e não te deixa respirar.