25 de enero de 2015

Namoradas de papel

Aprecio os meus longos minutos de silêncio e contemplação.
Contemplo, logo existo.
Sir John Coltrane me disse uma vez para seguir em frente...
pelo lodaçal, sujando os pés (unhas compridas e remelentas).

Subo na boleia de um caminhão de rodas coloridas e metalizadas.

Com idiotas rindo ao longe.
Na paisagem estranha - o idiota sou eu, talvez.
Faço um selfie: sorriso aberto.
Grito. Desço. Ainda não vivi o suficiente.
Vago pelo mato.
Corto palavras.
Queimo pontes.
Circulo entre cabras copulando
a tormenta se acerca.
Raios e trovões.
Frio e chuva.
Deito na lama.
Acaricio meu pênis.
Adoro gatos e namoradas de papel.
O mundo gira em torno de mim.

Imagino cavalos em fuga 

meretrizes ao vento
pipas encharcadas
abelhas embrutecidas.
Sofro sem querer.
Choro sem pesar.
Elevo a voz.
Jovens sendo espancados no meio-fio.
E eu aqui, dando milho aos pombos.

Na esquina há um bar

Esquina é seu nome
ninguém que eu conheça
a bebida mais forte
paro de pensar
escrevo
deleto
deletério
diletante
num guardanapo
qualquer
Where is My Mind.

Mais um selfie. Não me reconheço

O copo - só vejo o fundo
Desisto e repito como se fosse um mantra
Mil vezes, mil vezes, mil vezes:
Nada me atrai
Nada me distrai
Nada me seduz
E continuo à deriva.