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28 de abril de 2012
EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS
EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS
de Beto Brant e Renato Ciasca
Punhal de prata já eras, punhal de prata! nem foste tu que fizeste a minha mão insensata. vi-te brilhar entre as pedras, punhal de prata! - no cabo flores abertas, no gume, a medida exata, exata, a medida certa, punhal de prata, para atravessar-me o peito com uma letra e uma data. A maior pena que eu tenho, punhal de prata, não é de me ver morrendo, mas de saber quem me mata.
(Cecília Meireles)
Há duas possíveis leituras, olhando o filme como um todo. A primeira é de que estamos frente à luta entre o corpo e a alma. A segunda, é encararmos a obra como uma metáfora de que todo pecado merece ser punido.
Simbolicamente, uma das primeiras cenas, acontece numa prisão. O que acreditamos que sejam criminosos passam por uma sessão de fotografia a contragosto. E por uma ironia do destino, o personagem principal, fotografo de profissão, terá que experimentar algum tempo depois, da hospitalidade carcerária.
Ele, o fotografo, o forasteiro, o intruso, não se limita a olhar, a enquadrar a realidade e cortar seus excessos. Vai além. Sucumbe à beleza trágica da mulher do pastor local. E não bastasse o pecado da cobiça, tenta mudar o curso da história, tenta mudar o destino de Lavínia (interpretado pela excelente Camila Pitanga) e é punido com a perda parcial do seu instrumento de trabalho.
Na outra ponta do triângulo, temos o pastor que não sobrevive à “lei da selva”. O discurso mesmo travestido de retórica evangelizadora, não agrada aos poderosos da região. Há um desafio ao status quo e isso traz mais uma perda, mas desta vez, total e irreversível.
Lavínia, não sai ilesa desse redemoinho de interesses escusos e egoístas. O gozo é punido. A luxúria é proibida e quem dela faz uso e divertimento cai em desgraça. Só lhe resta fugir e esconder-se em si mesma.
Por outro lado, temos a leitura do corpo e da alma.
Enquanto o pastor tenta salvar a alma de Lavínia, usando a religião como remédio; o fotografo procura a salvação do corpo dela com a realização das mais variadas fantasias. Os dois fracassam, por sinal. A alma perturbada e infeliz não resiste às tentações da carne e vice-versa. O pastor também fornica, também deseja, mas não é o suficiente. Falta o ardor da paixão que não se revela. Do instinto que vai mais fundo e enlouquece. O discurso libertador não resiste à tentação mundana.
Enfim, somos pecadores e merecemos o castigo. Temos corpo e alma. Somos imperfeitos. E tanto faz se estamos à beira do rio e da natureza exuberante, a incerteza e o medo fazem parte da nossa pesada bagagem.
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