28 de noviembre de 2011

Vinho Verde

Primeiro Semestre - 16:00
Quanto paguei? Sei lá. Só sei que passei pelo caixa do supermercado com belas garrafas de vinho verde português e a promessa de uma noite e tanto. 
Ela tava junto e me ajudou na escolha das bebidas.
E eu - tão ingênuo em meus vinte e pouco anos - pensei que conhecia profundamente as mulheres.
Ledo engano.


Queria te ver. Um pouco - quase nada. 
Talvez menos - bem menos.


20:00
Passei pela portaria. Subi no elevador. Toquei a campainha.
Ela me atendeu sem muito entusiasmo.
O vinho ligeiramente gelado e de gosto esquisito fez o resto.


21:00
Sentado na poltrona, observo a turma reunida.
Todos saudáveis e felizes.
Dividindo o baseado e o chimarrão.
O Vento Norte nos deixava fora de si.


22:00
Chapados e alcoolizados fomos todos em direção à boate universitária.
Era uma noite quente. Céu aberto. Ruas vazias. Tentamos cantar algo sem sucesso. Ninguém conseguia conciliar letra e melodia.


23:00
No meio da fumaça, do barulho e da energia de quem está começando a vida, eu a vi.
A guria com a qual tinha gasto todas as minhas economias, comprando o vinho verde, estava ficando com outro.
E eu - tão ingênuo em meus vinte e pouco anos - pensei que não voltaria a me apaixonar novamente.



Queria te ver. Um pouco - talvez menos. 
Bem menos - quase nada.


00:00
Da janela do meu quarto, vejo as estrelas.
Sinto que a mistura de vinho, maconha e chimarrão não me fez bem.
Sinto náuseas. 
Deito. Ligo o rádio. Tento forçar o choro. 
Começo a repetir: hoje ruim - amanhã melhor. hoje ruim - amanhã melhor. hoje ruim - amanhã melhor...



Segundo Semestre - 12:00
Uma loira na fila do ônibus, chama a minha atenção.
Olhos azuis e sorriso largo (que só as mulheres do sul sabem ter).
Dou um jeito de furar a fila e entrar logo atrás dela.
E é claro que não falei nada.
Dessa vez me contentei apenas em olhar.

Queria te ver. Quase nada - bem menos. 
Um pouco - talvez menos.