1 de diciembre de 2021

Pequena Crônica de Natal (texto de 2010 revisitado em 2014 e de novo em 2021)

Natal - por mais que tente esquecer - me faz lembrar das vezes que, a mando da minha mãe, saía pelas ruas do bairro para entregar os famigerados cartões de Feliz Navidad y Próspero Año Nuevo. Uma tarefa tão odiada que ainda me traz arrepios, pois de tão tímido ter que bater na porta e interagir com gente desinteressante, tornava-se um martírio (era um alívio quando não havia ninguém, bastava colocar o cartão por baixo da porta e fugir). 

Pois bem, para piorar, teve a vez que entreguei o cartão para o cara errado! Culpa da minha mãe, é claro. O sobrenome era o mesmo e entre tantos cartões, trocar fulano por sicrano era muito fácil. Quando percebi a besteira, voltei todo encabulado e pedi o cartão de volta. O velho não deve ter entendido nada, mas como a minha mãe conseguia descobrir tudo, achei melhor passar vergonha a deixar sem cartão o destinatário correto.

Hoje não tem mais dessas coisas. O e-mail desterrou o cartão de Natal pra bem longe (o Polo Norte, talvez). Você até pode mandar um e-mail desejando Feliz Natal por engano, mas nada impede que você cancele o mesmo e mande um outro para o endereço correto. 
E sem falar que você faz um copy-cola de um texto meloso e manda em cópia oculta para dezenas ao mesmo tempo. (porque escrever palavras repetidas em mais de um cartão era de machucar o pulso).

Deus seja louvado! Nada de contato físico, nada de trocar um bom dia forçado. Nada de bater em portas, tocar campainhas ou bater palma. Nada de olhar para um idoso perplexo que depois de ficar contente com a bonita ilustração natalina descobre que o cartão não era para ele. 

E numa época em que a importância e popularidade, de uma determinada família, era medida pela quantidade de cartões recebidos no final de ano - deixar de receber um desses ou não receber nenhum fazia uma puta diferença. 

Feliz Natal.