19 de agosto de 2010

Depois de um longo e tenebroso inverno

É bom estar de volta.
Deixei o meu blog de lado para me ater a outros afazeres e obrigações.
Mas o desejo de escrever, opinar, falar besteira e reclamar da vida , estava latente, aflito e quase em desespero.
E a vontade de assistir a "Medos Privados em Lugares Públicos" era antiga. Mas a falta de tempo, oportunidade e um certo preconceito em relação ao cinema francês, sempre adiaram tal possibilidade. A princípio fui ao Belas Artes para assistir "El secreto de sus ojos", porém o destino fez que a cópia apresentasse defeito. E lá fui eu, assistir a um filme que está há três anos em cartaz, ainda frustrado, ainda com um certo receio.
Creio que a figura emblemática do filme de Alain Resnais seja a personagem de Charlotte uma mistura de recepcionista, beata, enfermeira e stripper. Afinal não somos obrigados a assumir diversos papeis ao longo da nossa vida? Somos pais e filhos, rebeldes e acomodados, sábios e trogloditas. Tudo depende do contexto, das circunstâncias. Almejamos a coerência, a virtude, mas somos fracos e infelizes. Os cinco personagens, deixando de lado a Charlotte, não são diferentes, são imperfeitos e incompletos. Querem afeto e compreensão. Querem ser ouvidos, receber conselhos e obterem prazer. Querem confessar os pecados e serem perdoados. Sem esquecer o sétimo personagem, o pai do barman, idoso e doente, que além de infeliz é incapaz de mudar a sua condição, de movimentar-se, de andar, de sair e enfrentar a tempestade de neve, reagindo com a mais pura e gratuita agressividade.
O inverno, a neve, a escuridão permanente são uma metáfora do nosso vazio. E se o sol surge ao final do filme não é para simbolizar o renascimento da vida, da primavera ou de qualquer outro escapismo - simboliza apenas
que somo índivíduos com poder de livre arbítrio. Que podemos fazer escolhas, partir para outra, levantar a cabeça e sacudir a poeira. Somos imperfeitos sim, erramos sim, mas a decisão cabe a nós, adultos nem tão crescidos, nem tão maduros. Mesmo que a opção seja a solidão e uma fita VHS vazia. E quem não tem mais o poder de escolha, pode sonhar, fantasiar, desejar por uma linda stripper. E morrer com um sorriso nos lábios.
http://buysound.solo.net/Private%20Public/21_Choices.mp3