E se não me falha a memória, o único movimento visível era a fumaça da velha chaminé (talvez fosse um pão sendo assado ou quem sabe uma torta de framboesa, tanto faz).
Havia também o trecho de um caminho feito todo de pedregulhos e que terminava bem na entrada da casa e era por ele que andava quase todo dia. Do café ao jantar, dia ou noite sem parar.
A casa lilás era o meu refúgio e o caminho era o meu túnel do tempo. E entre uma garfada e outra – e brigas e confusões – sempre dava um jeito de fugir sem ninguém perceber.
E de pedra em pedra, abria a porta e me escondia dentro, permanecendo junto ao calor do forno. Para sair, era só piscar duas vezes que voltava à mesa no meio do dia a dia familiar.
O quadro, a pintura modesta ficou por lá um bom tempo. Pendurada no meio da cozinha. Uma cozinha de paredes verdes, toda descascada e cheia de gotinhas de gordura.
03/10/2003
Revisado em 24/05/2020