13 de septiembre de 2008

Pai e madrasta são acusados de matar os dois filhos

Aguardei pacientemente até o final de semana para conhecer as capas das revistas de circulação semanal, revistas voltadas para a classe média e que praticam um jornalismo apelativo e paranóico (por isso a Carta Capital está de fora). Pois bem, tinha quase certeza que as respectivas capas não iriam cobrir o assunto acima. Apesar de tratar-se de mais um crime com "requintes de crueldade" (desculpem o chavão), envolvendo crianças, a grande imprensa relegou-a apenas às páginas policiais. Nada de primeira página, nada de destaque nos noticiários de TV, nada de manchetes com letras garrafais apuntando os supostos culpados. Nada de comunidades no orkut condenando os pais, nada de vídeos no YouTube, nada de indignação e revolta em frente à delegacia, enfim nada de ameaças de linchamento por parte de uma multidão enfurecidade com tanta barabarie. O assunto daria uma boa tese de mestrado (pelo menos seria um assunto muito mais intereressante do que muita tese defendida na USP): Por que os meios de comunicação tratam de assuntos similares de forma diferente ou de como a classe média e conservadora domina as redações da imprensa brasileria. A única explicação plausível que me vem à minha prosaica mente é de que se trata de mais um crime na periferia da periferia de São Paulo. Crime bárbaro, mas que envolve a pobreza da pobreza. Casais disfuncionais que vivem na miséria, sem qualquer noção de civilidade e sem padrões morais definidos. Em outras palavras, é o lumpem da sociedade. E lumpem não vende jornal, não dá audiência, não cria comoção pública. Bem diferente da morte da menina Isabella Nardoni. Envolveu uma família de classe média, pais ditos normais, com profissões definidas e levando uma vida que nem a nossa. Quer dizer, poderiam ser o casal que mora no apartamento ao lado, nossos vizinhos de prédio, de rua, de bairro, de cidade, de país. E o jornalismo movido pelo lucro, por jornalistas conservadores e também de classe média, sabem farejar uma boa notícia. Morte atroz de uma menina inocente vende, vende muito mais do que a morte atroz de dois meninos inocentes, inocentes mas pobres. Afinal pobre não merece viver. A nossa mísera consciência só liga quando acontece algo próximo de nós, quando faz parte do nosso mundo. Um mundo cada vez mais e mais... (me faltam adjetivos).
Em tempo: Faça um teste e procure uma foto na internet dos meninos esquartejados. Não irá achar nada. Só achei algo do assunto depois de muita procura.