12 de agosto de 2008

Pequena lição de jornalismo

O dia que o Estadão foi Veja Durante dois dias foi possível discutir tecnicamente o tal relatório sigiloso do STF sobre a presumível escuta no tribunal. Aqui no Blog não faltaram análises técnicas demonstrando a fragilidade do relatório preparado pela segurança do STF. Havia tema e tempo para desdobrar o factóide da Veja e fazer jornalismo: conferir se as análises técnicas estão corretas; não estando, questionar a leviandade da mais alta corte, de se prestar a insinuações dessa monta sem estar tecnicamente amparada. Nada disso. O Estadão - que vinha se destacando pelo discernimento - repercute o factóide de Veja ouvindo o Ministro Tarso Genro (clique aqui). A ingenuidade do Ministro é temerária. Uma das espertezas maiores de quem quer criar um factóide é induzir a fonte a falar sobre hipóteses. É o caso do “Boimate” da Veja, excepcional feito de Eurípedes Alcântara nos anos 80. O repórter procurou um especialista para perguntar sobre a importância da experiência. O especialista disse que era impossível juntar boi com tomate. Aí o repórter indagou: “E se fosse possível?”. O especialista, ironizando: “Seria a maior revolução da história da genética”. Na edição seguinte, a matéria da Veja dizia que o especialista declarou que era a maior revolução da história da genética,. Tarso embarcou nesse jogo. Objetivamente, o que disse sobre escutas: "Não acredito que tenha havido escuta no Palácio do Planalto. Mas a Polícia Federal está à disposição para investigar, se for o caso." Ora, se não acredita que houve, não comente sobre hipóteses. Ou acredita que quem indaga sobre hipóteses age de boa fé? Mas não conseguiu resistir: "Se foi feita, foi por alguém totalmente à margem da estrutura de poder da Polícia Federal. Se houve, é uma escuta marginal." "Escuta ilegal clandestina é um crime. E feita contra o Supremo, se é que existe, não é só um crime, como uma vergonha." Ele lembrou que, se na escuta contra Mendes tiver sido usado o Guardião, instrumento oficial da PF para monitoramentos telefônicos, será fácil detectar o autor. O sistema exige que o usuário forneça digitais e registre a que investigação está ligado e quem ordenou o grampo. Qual a manchete? Óbvia: Escuta contra o STF é ''inaceitável'', diz Tarso Ministro afirma que suposto monitoramento não foi ordenado pela PF: "Se houve, é marginal" http://www.projetobr.com.br/web/blog/5