1 de marzo de 2007

Violência em São Paulo

VIOLÊNCIA "A imagem da menina não sai da memória" DUILIO FERRONATO COLUNISTA DA FOLHA Estalos de tiros e pessoas correndo. Alguns se jogam no chão. Eu como sempre nessas horas não sei o que fazer. Fiquei parado olhando. A menina na minha frente torce o corpo, como se uma explosão tivesse saído de dentro dela. Não saiu muito sangue, mas parte dos ossos das costas saem pela blusa. Mais uma vez eu não consegui me mexer. Ela estava a menos de dois metros de mim. Eles atiraram nela e em mim. A dela acertou e a minha parou numa árvore. Abaixei para falar com a moça. Ela disse: "ai moço, estou tonta" e não falou mais nada, apesar de estar viva. Tive vontade de chorar, até chorei um pouco. O sangue começou a sair e uma mulher mais atinada que eu tentou estancá-lo com uma camisa. Tive que ficar olhando de longe, mas meu coração se espedaçou, mesmo não tendo sido atravessado pelo tiro. Já não sei mais o que imaginei e o que vi. Só a imagem da menina caindo não sai mais da memória. Impregnou como marca de fogo. As motos saíram do banco Itaú, atirando nas pessoas do outro lado da rua. Por que fizeram isso? Não faz sentido atirar em pessoas na calçada, depois fui perceber que os seguranças do bingo do outro lado da rua atiravam contra os motoqueiros. Estive num fogo cruzado. Eles estavam reagindo aos tiros vindos do outro lado da rua. Quem acertou a moça? Os ladrões ou os seguranças. Não sei dizer. A bala que passou ao meu lado com certeza veio dos motoqueiros. Eu não percebi os seguranças até eles começarem a correr pela rua. Com armas nas mãos. Eu nem sabia que seguranças de bingo podiam correr com armas nas mãos. Os policiais chegaram fazendo show e corriam como baratas tontas. Foram mais de 30 carros e motos da polícia. Atrasados, é claro. A moça foi colocada no camburão e levada às pressas. Diziam que outras pessoas teriam sido baleadas, fiquei mais um tempo por ali e escutei muitas versões do assalto. Muito sangue na frente da agência, uns diziam que era dos bandidos e outros, dos seguranças. Não fui perguntar, já estava além da minha capacidade. Foi a terceira vez na vida que atiraram na minha direção e não sofri nada. Nem sei o que dizer. Daqui a pouco os jornais terão o tema Violência no seu índice geral. Sai Cotidiano e Metrópole e entra Violência. E pensar que no ano passado a maioria votou a favor da comercialização de armas de fogo. Tantas armas, tantas mortes, tanta estupidez!!!