Uma história mal resolvida
Um vulto toma forma e se aproxima. É novembro, sinto pelo ar que traz.
Abre a minha porta e mal tenho tempo de me esconder.
Ri cada vez mais alto. Começo a chorar. Peço perdão. Não quero apanhar. Não quero sofrer. Imploro para que vá embora e leve junto tudo aquilo que escrevi.
Mas ela canta:
Passado é passado que está morto e enterrado.
Passado é passado que está morto e enterrado.
Passado é passado que está morto e enterrado.
Grito e peço para parar e sair, fechar a porta. Sou um ser químico que cheira mal, digo aos prantos.
Guardarei apenas comigo as carícias em segredo e basta por hoje.
Devo dormir e não mais lembrar.
Sinto saudades, devo admitir.
Tomo uma ducha fria. Esfrego o meu pênis de criança.
Quero mentir, mas não posso.
Tenho medo.
Tenho medo da culpa e do castigo.
Tenho medo daquele período do dia, pouco antes da tarde virar noite.
Escrevo na parede um poema insosso:
Risco a sua pele clara e deixo toda colorida as linhas da sua mão.
Começa a chuva, cai o sinal. E não escuto mais nada.
Continuo o poema dentro do poema. Um poema que se auto-explica.
Uma metáfora de si mesmo.
O pintor que desenha um pintor que desenha um pintor que desenha...ad nauseam.
Sinto falta do seu olhar que inventa desculpas.
Das palavras mal-ditas.
Da voz que afina.
Da tatuagem escondida.
Da tatuagem escondida.
E do texto em branco...